Rua do Cavarucanguera

Publicado por Rever Produções em

texto de Lia Carolina Prado Alves Mariotto

Se perguntarmos aos taubateanos com menos de 45 aos onde fica a Rua Cavarucanguera dificilmente saberão responder, excetuando talvez aqueles que têm ou tiveram parentes moradores na Cavarucanguera.

Isso porque o nome Cavarucanguera, em 26 de dezembro de 1969, foi trocado pelo seu atual nome: Avenida Brigadeiro José Vicente Faria Lima.

Isso mesmo! A antiga rua Cavarucanguera é hoje a avenida popularmente conhecida como Av. Faria Lima.

O Termo Cavarucanguera, como tão bem foi explicado pelo ilustre Dr. Hugo Di Domenico, em seu excelente dicionário Léxico Tupi-Português, é um termo de origem indígena (tupi) e quer dizer o seguinte: “CAVARUCANG(U)ERA = a ossada do cavalo. (cavaru = cavalo) unido a (canga = osso) –
quando no esqueleto, com carne, mais (uera) – [sufixo de passado = o que foi] – o que passou a esqueleto”.

No caso do nome cavaru-cang(u)era, bairro de Taubaté, a interpretação deverá ser a seguinte que estará de acordo com o que se diz de que havia naquele bairro uma caveira de cavalo espetada num pau, para trazer sorte às plantações (cavaru = pronuncia incorreta de cavalo pelos índios) = cavalo mais cang(u)era (de acang(u)era) = caveira); caveira de cavalo.

Em outra situação a interpretação poderia ser também a de “a ossada de cavalo” ou “osso de cavalo” uma vez que cang(u)era pode ser interpretado apenas como “osso ou ossada (sem carne).

Teodoro Sampaio interpreta assim: “ossada do cavalo”; a caveira desse animal.”

Agora, caros leitores, que já sabemos o significado do termo Cavarucanguera vamos saber, também, um pouco da história dessa rua.

Taubaté é a cidade mais antiga da região do Vale do Paraíba e, como tal, possui uma História muito rica e cheia de belezas. Acreditamos que a fundação do povoado foi por volta de 1636 ou 1638, mas, sua elevação a condição de Vila, foi no dia 05 de Dezembro de 1645. Essa data tornou-se a data oficial para a comemoração do aniversário de Taubaté e no próximo dia 05 de dezembro a cidade estará fazendo 365 anos. Três séculos e sessenta e cinco anos de existência!

Nessa época não existia o poder Executivo, isto é, não existia o cargo de desembargador pelo Prefeito e quem administrava a Vila era a Câmara Municipal através dos Vereadores que eram eleitos para desempenhar suas funções. Portando, a leitura das Atas da Câmara daquela época, assim como das Atas atuais, nos mostra muitos da história da Cidade.

Naquela época já existia a Rua Cavarucanguera, só que a estrada do Cavarucanguera. Não seria uma rua, como hoje conhecemos. Era a estrada que dava acesso a Vila para aquelas pessoas que vinham “da banda do mar” como assim era conhecida a região da atual cidade de Parati. Havia uma antiquíssima estrada ligando Parati a Taubaté e a chegada à vila era pela “estrada do Cavarucanguera”. Quem saísse de Parati, passava pela região do Facão – como era conhecida a região da atual cidade de Cunha – atravessa os bairros de Encruzilhada, Itacurussá, Encontro, Abóboras, Catioca, todos eles – hoje – pertencentes ao município de Cunha. Em seguida passava pelas regiões do Faxinal, Cachoeira Grande e Barreiro – atualmente bairros rurais do município de Lagoinha e entrava nos bairros rurais de Taubaté: Pedra Grande, Pouso Frio, Sete Voltas, etc.,ect., até chegar no bairro do Ipiranga onde entravam o rio Una. E assim seguiam viagem até chegar à Vila de Taubaté não sem antes percorrerem a “estrada do Cavarucanguera.”

Como já disse a leitura das Atas da Câmara nos ensina muita História. E é pela leitura da Ata do dia 1º de maio de 1780 que ficamos sabendo que, tanto os vereadores como o povo da Vila, resolveram que todos aqueles que estivessem contaminados pela lepra ou pela bexiga (assim era o nome da doença que hoje é conhecida como varíola) deveriam ser banidos da Vila permanecendo nos
arrabaldes da mesma, para evitar o contágio. Tanto a lepra como a “bexiga” são doenças altamente contagiosas e, na época, não havia vacina ou remédio que curasse. Então, visando conter o aumento do contágio em massa foi resolvido que esses doentes ficariam morando fora dos limites urbanos sendo escolhida a região da “estrada do Cavarucanguera” para a fixação dos mesmos.

A Câmara, com a ajuda do povo e das “pessoas de bem” como eram conhecidos os homens ricos da época, construíram espécies de barracões que serviriam de abrigos para os leprosos e bexiguentos. Esse fato, registrado nas Atas, propiciou o aparecimento de outra hipótese ara a origem do nome Cavarucanguera.

Naquela época a lepra era uma doença muito cruel, pois não tendo remédio que contivesse o avanço da doença, os doentes iam apodrecendo aos pouquinhos e, frequentemente, perdiam o uso das mãos ou dos pés. As partes do corpo do indivíduo infectado caiam no chão espontaneamente. Com perda do nariz, orelhas, manchas espalhadas pelo rosto eles poderiam ter o aspecto de verdadeiras caveiras. E deveria der muito comum leprosos que não tivessem condição de caminhar se locomoverem montados em cavalos.

Assim sendo, a expressão “cavarucaguera” também poderia ser interpretada como: caveiras a cavalo. Isto é, aqueles leprosos que tinham uma aparência desfigurada popularmente seriam vistos como verdadeiras caveiras e, uma vez que não podiam andar devido a ausência dos pés, se locomoviam, montados em cavalos.

Esta aí, portando, outra maneira de ser interpretado o termo Cavarucanguera.


5 comentários

IRANI FONSECA COELHO · 28 de junho de 2020 às 23:12

ESTOU EM ISOLAMENTO SOCIAL, IDOSA ENFRENTANDO A PANDEMIA. MORO EM
CAVARUCANGUERA, PORTANTO SOU PARTE DA HSTÓRIA.

    Rever Produções · 28 de agosto de 2020 às 12:08

    Olá Irani, como vai? Gostou da nossa postagem? Agradecemos seu comentário. Cavarucanguera foi e é parte da história taubateana!

jose silvestre das neves · 20 de dezembro de 2020 às 06:19

muito bom.

jose silvestre das neves · 20 de dezembro de 2020 às 06:21

muito bom

Eliel Gonzaga · 9 de junho de 2022 às 20:49

Um nome diferente que é uma verdadeira arte que não deve ser esquecido/deixado no passado.
Como uma sede de fazenda de três séculos atrás…

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